Artigo
Argumentar é preciso, já dizia Aristóteles! E hoje?
19/05/2017
- Fonte:
ESAOABSP
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Para mostrar o quanto é importante nos dias de hoje saber argumentar em várias situações, apresentar um pouco de história é fundamental e muito interessante!
O período anterior a Sócrates foi caracterizado pelo interesse no próprio homem e nas relações desse com a sociedade. Essa fase inicialmente foi marcada pelos sofistas, professores (sábios) viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamentos práticos de filosofia. De acordo com o interesse do aluno davam aulas de eloquência e conhecimentos úteis para o sucesso nos negócios.
Muito semelhante ao que tem acontecido nos dias de hoje. Uma necessidade, quase que inesgotável, de interesse em conhecimento para alavancar os negócios e principalmente para desenvolver rapidamente uma performance comunicacional adequada de acordo com as necessidades. Na área jurídica a habilidade de comunicação (palavra falada e escrita) é fundamental.
Mas, voltando a história: nesse momento histórico, os mais ambiciosos sentiam necessidade de aprender a arte de argumentar em público para manipular o conflito durante as assembleias públicas fazendo prevalecer seus interesses individuais e de classe.
As aulas ministradas pelos sofistas tinham como objetivo o desenvolvimento do poder de argumentação, das técnicas da retórica e oratória, do conhecimento de doutrinas divergentes. Buscavam transmitir raciocínios e concepções utilizando um jogo de palavras que seria aplicado na arte de convencer as pessoas e driblar as teses dos oponentes.
Segundo esse raciocínio, não haveria uma verdade única, absoluta. Tudo seria relativo ao homem, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstâncias.
Sócrates, então, serve como um marco para a Filosofia, pois apesar de seu estilo de vida assemelhar-se ao dos sofistas, não vendia seu conhecimento; ao contrário, distribuía-o em praça pública, conversava com os jovens e dava demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento.
“Conhece-te a ti mesmo”, era a recomendação básica de Sócrates a seus discípulos. “Só sei que nada sei” era, para Sócrates, o princípio da sabedoria. Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores para que reconstruíssem suas próprias ideias. O que é o bem? O que é a justiça? São exemplos de algumas perguntas feitas por ele. Sócrates procurava atingir a verdade por meio do diálogo.
Assim, estabeleceu-se uma discussão clara entre o discurso argumentativo dos sofistas, que mediante a persuasão procuravam manipular os cidadãos, e o discurso argumentativo dos filósofos, que procuravam atingir a verdade por meio do diálogo, pois só ela importava.
A filosofia surgiu como discurso dirigido à razão, e não à emoção dos ouvintes. Essa é, aliás, a condição primeira para que a verdade possa ser comunicada. Não se trata de convencer alguém, mas de comunicar ou demonstrar algo que se pressupõe já adquirido: a verdade de que o filósofo é detentor.
Aristóteles foi o primeiro filósofo a expor uma teoria da argumentação, procurando um meio caminho entre Sócrates e os sofistas, encarando a retórica como uma arte que visava descobrir os meios de persuasão possíveis para os vários argumentos. O seu objetivo era uma comunicação mais eficaz. A retórica torna-se, assim, uma arte de falar de modo a persuadir e a convencer diversos auditórios.
É nesse quadro definido por Aristóteles que a retórica evoluiu como uma arte de compor discursos que primavam pela sua organização e beleza (estética), desvalorizando a dimensão argumentativa cultivada pelos sofistas.
Além disso, Aristóteles, Cícero e muitos outros filósofos já insistiam que o bom orador não deveria se limitar a produzir um bom discurso, deveria também estar atento a outros aspectos, como postura, impostação de voz e dicção.
A partir deste embasamento histórico e estudo é necessário redimensionar as técnicas e estratégias com o objetivo de utilizar a argumentação como mais uma ferramenta de esclarecimento e ordenação eficaz de informação.
Assim, proponho o que denominei de ‘oratória contemporânea e empática’ que objetiva o aprimoramento da performance comunicacional do homem moderno e de acordo com as suas atribuições, cargo, função e objetivos. Esta terminologia foi criada para expressar a junção da Oratória (já conhecida) e a Fonoaudiologia.
A Oratória, que deve ter como referência as necessidades do homem atual, nas suas diversas atribuições e a Fonoaudiologia, ciência que estuda a Comunicação e seus distúrbios, a qual apresenta um arcabouço teórico-prático determinante e que promove o entendimento, o aprimoramento e a possibilidade de mudança do comportamento comunicacional, com intuito de alcançar o “bem falar e o esclarecer”.
Desta forma, pode-se afirmar que além da informação e sua ordenação didática é fundamental embalar o conteúdo dito, com os principais aspectos que dão vida a transmissão dos nossos pensamentos e conhecimento, dentre eles: a voz empática, a dicção (articulação dos sons da fala), o vocabulário (recursos linguísticos favoráveis), a linguagem corporal (postura acolhedora, expressão corporal e facial, gestos representativos e indicativos, microexpressões, expressividade), indumentária (vestuário), saber ouvir e escutar, percepção e observação e sensibilidade para acolher o outro.
É fundamental reconhecer que o conceito sugerido da oratória contemporânea pode contribuir para uma argumentação diferenciada que se presta a promover a apresentação de informações com embasamento e com o propósito de contribuir para o esclarecimento do cenário e diálogo. A partir desta reflexão é possível utilizar estratégias comunicacionais balizadas com o objetivo de amenizar os conflitos, estimular uma escuta atenta, desenvolver uma comunicação não violenta (empática), aspectos hoje fundamentais para os processos de mediação, conciliação e negociação.
Assim é possível moldar a nossa argumentação diferenciada e com maestria. Mas afinal, como praticar nos dias de hoje?
Então, nos vemos no próximo artigo!!
Fonte: www.mariadocarmocarrasco.com.br
Por: Dra. Maria do Carmo Carrasco